A dramática experiência do querer e… não ter.

Ah! Essa vida de consumidor não é nada fácil mesmo! A gente é bombardeada de propaganda por todos os lados. Por onde quer que a gente passe, no mundo físico ou no virtual, sempre vem aquela sensação de estarmos sendo seguidos por marcas que suplicam a nossa atenção.

No mês passado, recebi um convite para inscrição em uma superaula de yoga, que aconteceria numa loja de artigos esportivos na rua mais chique de São Paulo. Era uma aula especial, com um professor muito conhecido no meio dos yoginis. Ao fazer a inscrição, eu ganharia um kit com camiseta, shopping bag (nome bacana para sacola), gifts de parceiros e mat de yoga (é o conhecido tapetinho). Tudo isso por R$ 95! “Wow”, pensei, “além de poder fazer aula com uma fera na prática ainda ganho tudo isso!!!”

De tudo que tinha no kit de participação, o que mais me agradou foi o tapetinho de yoga, que, no mercado, custa por volta de R$ 90 (um bom tapetinho, é claro). Me empolguei! “Siricuticos” invadiram meu corpo, e de repente eu TINHA que fazer a inscrição. Ah! Sabe o que é um “siricutico”? É aquela sensação de querer uma determinada coisa, no prazo mais imediato possível. Torna-se quase uma obsessão! Isso explica muito do nosso comportamento no ato da compra. Você concorda em pagar mais caro, desde que receba o seu objeto de desejo mais rápido! Quem nunca?

– Atenção, passageiros do voo XX 1234. Última chamada para o embarque no portal de nº 23 – Informou a companhia aérea com que eu ia viajar. Era o meu voo. Fechei meu tablet e corri para o portão.

Foram 3 horas de voo, de São Paulo a São Luís. Três horas em que eu não pensava em mais nada a não ser na tal da inscrição. E um mantra se entoava na minha mente: eu quero… tapetinho… eu quero tapetinho… tapetinho… de yoga… Não havia nada para me distrair! Ficar confinado numa aeronave sem entretenimento é tedioooooso!!! É chato demais!

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Pousei! Que alívio! Queria me conectar para fazer a inscrição. Mas eu tinha apenas meia hora para chegar ao local da minha reunião. Eu estava viajando a trabalho. Não teve jeito! Pelo menos durante a reunião minha mente se acalmou um pouco. Consegui focar no assunto e deixar o tapetinho para depois.

Mas bastou eu entrar no hotel para acessar meus e-mail e fazer a tal da inscrição. Só que não consegui. Eu clicava no botão “clique aqui” e não era direcionada a nenhuma parte. Não! Tá de brincadeira, né? O universo estava mesmo contra mim! Desapontada, fui dormir sem fazer a inscrição.

Dois dias depois, recebo outro e-mail me convidando para a aula. Ah! Agora é a hora! Imediatamente abri o link (que funcionou) e fiz a inscrição. Peraí!  Nesse novo convite o kit não tem o tapetinho. Mas como assim? No primeiro e-mail tem, mas não consigo fazer a inscrição… e, no segundo, não tem o tapetinho, mas consigo me inscrever? Ah! Vai ver que foi um erro. Não era para ter o tapetinho (que sozinho custa mais que a inscrição), e eles deram um jeito de tirar o link do primeiro e-mail do ar.

Chegou o dia da aula! E eu estava lá, feliz da vida! Confesso que, apesar de já ter 8 anos de prática, eu estava com medo de não estar no mesmo nível dos outros participantes. É que estava escrito no e-mail que seria uma aula de super-yoga! O que você imagina? Um monte de yogini em várias posições esdrúxulas, que você nem sabia que o corpo humano era capaz de atingir. Mas acabou sendo tranquilo.

Quando fui pegar meu kit, percebi que algumas pessoas estavam recebendo a p*orr@ do tapetinho! Mas o meu kit veio sem. Opa! Tem algo de estranho nisso.

– Somente os 20 primeiros inscritos tinham direito ao tapetinho. – Respondeu uma pessoa do evento.

Mas onde isso estava escrito na inscrição? Fiquei confusa e não disse mais nada.

“Calma, Claudia, era só um tapetinho! E a aula foi um espetáculo. Só por isso, já valeu a pena.”

Isso era minha voz tentando me conformar.

Mais tarde, resgatei os e-mails da aula. Li e reli várias vezes. E não encontrei nada que justificasse o caso do tapetinho.

Pensando racionalmente, se houvesse mesmo algo escrito a respeito das 20 primeiras inscrições, eu realmente não teria o direito de ganhá-lo. Afinal, só consegui fazer a inscrição dois dias depois de ver o e-mail. Mas, mesmo tentando buscar métodos racionais para me sentir melhor, ainda assim eu me sentia enganada.

Não reclamei à organização do evento. Eles nem imaginam que isso aconteceu. Defendo, sim, a ideia de que devemos, por meio de feedback, sugerir melhorias às empresas. Mas, sinceramente, me falha a vontade de entrar em contato. Acho que eles podem entender que estou fazendo um dramalhão por causa de um tapetinho. Na minha imaginação eles vão rir da minha cara e fazer desdém dos meus sentimentos. Claro, isso na minha imaginação. Talvez eles me surpreendessem entregando um tapetinho personalizado com meu nome, na minha casa, para compensar a (eventual) falha de comunicação. Mas hoje estou sem vontade. Um tapetinho não vale o esforço.

Assim como eu, acredito que você também já tenha passado por isso. Não necessariamente por causa de um tapetinho, é claro! Mas, em alguma situação, já deve ter decidido não se dar ao trabalho de reclamar por achar que não adiantaria, não é? Pois fique sabendo que não está só. Segundo o livro É o cliente que importa, de Michael A. Aun, 96% dos clientes insatisfeitos não se queixam do serviço ruim.

Adoraria conhecer mais histórias como a minha. Se você tiver uma para contar, acesse aqui e conte tudinho. O Exmo.Cliente publicará sua história.

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