Líderes se servem por último

Como assim os líderes se servem por último? Há anos venho observando que, no mundo corporativo, os melhores lugares numa mesa são da diretoria. Sem contar as convenções, onde as primeiras fileiras de qualquer anfiteatro, seja ele grande ou pequeno, são reservadas para os C-Suites, como são chamados os mais altos cargos dentro de uma empresa. Trata-se de todos os “Chiefs” que podemos encontrar (Chief Executive Officer/CEO, Chief Operating Office/COO, Chief Financial Officer/CFO…).

O título do livro de hoje é o lema dos Fuzileiros Navais norte-americanos: Líderes se servem por último. Por esse motivo, esperei encontrar um livro inteiro escrito naquele tão manjado jargão do estilo “missão dada, missão cumprida”. Nada disso! O livro é fantástico!

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O autor defende a ideia de que, na natureza, só os mais fortes (e, consequentemente, os mais dominantes) se tornam líderes. O grupo segue as regras do líder porque ele, por ser mais forte, tem o papel de proteger todos os demais. A cultura dos Fuzileiros Navais norte-americanos abraça o princípio de que o verdadeiro preço da liderança é a disposição de colocar as necessidades dos outros acima das suas. “Em termos mais simples, não basta conhecer ‘o porquê’ de sua organização; você precisa conhecer as equipes e entender que são muito mais que recursos descartáveis”.

Segundo Sinek (autor do livro), o ambiente das empresas foi sendo moldado por vários fatores. Ele começa explicando que a Geração Grandiosa, por ter tido sua infância marcada pela Grande Depressão de 1929 e sua juventude marcada pelos combates da II Guerra Mundial, acabou se tornando muito amarga. “A importância do trabalho árduo, a necessidade de cooperação e o valor a lealdade – era o que sabiam fazer – definiu como as empresas funcionaram quando essa geração passou a administrá-las”. Esperavam que as pessoas se dedicassem durante uma vida inteira trabalhando num só lugar.

Já a geração seguinte, a dos Baby Boomers, cresceu num ambiente de prosperidade. Foi nos anos 80 que as nações do sistema capitalista vivenciaram a grande evolução dos produtos. A velocidade dessa evolução tornava os produtos obsoletos com mais rapidez, o que levava a uma redução da vida útil.

Acontece que não foram só os produtos que se tornaram descartáveis. Em 5 de agosto de 1981, o presidente Ronald Reagan demitiu mais de 11 mil controladores de tráfego aéreo, iniciando uma prática que se tornaria comum nos anos futuros: diante de qualquer sinal de queda de resultado financeiro, demitir colaboradores.

Em muitas empresas (ainda bem que não em todas), os altos executivos gozam de toda a majestade de sua liderança. Têm os melhores benefícios e salários. O problema é que, quando o foco está na realização de metas e, consequentemente, no alcance de um pomposo bônus, não sobra muito espaço para preocupações relacionadas à equipe.

Foi a primeira vez que encontrei, dentro de uma literatura técnica de administração, menção da influência de quatro substâncias químicas – endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina – em nossos sentimentos e em nosso desempenho dentro de uma empresa.

A endorfina é liberada em situações de medo e estresse. Graças a ela, nós temos uma notável resistência física. A dopamina “é a razão pela qual nos sentimos bem quando encontramos alguma coisa que estávamos procurando ou fazemos algo que precisa ser feito”, ou seja, é o hormônio da realização. Sabe aquela meta que as empresas nos colocam? Pois é, liberam muita dopamina (quando atingidas!). Tanto uma quanto a outra traz a sensação de prazer. O problema está no poder de viciar dessas substâncias.

A serotonina e a ocitocina incentivam o comportamento social. São essas substâncias que nos reúnem para a realização de “coisas muito maiores do que as que faríamos se enfrentássemos o mundo sozinhos”. Enquanto a serotonina é responsável pela sensação de orgulho, a ocitocina proporciona a sensação de amizade, de amor ou de confiança profunda. Alguns se referem à ocitocina como “o hormônio do amor”. Sabe quando a gente faz um bem para alguém e sente aquela sensação de autorrealização? É a ocitocina agindo no nosso metabolismo.

Sinek explica que as piores empresas para se trabalhar são aquelas encharcadas de endorfina e dopamina. Essas são substâncias ligadas ao lado individualista das pessoas. É nesses ambientes que os executivos mais adoecem. Interessante isso, não?

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