Freud explica o que acontece com a gente na hora de decidir por uma compra.

Quem tem uma mulher vaidosa em casa sabe que ela sofre uma crise insuportavelmente profunda e interminável quando o secador de cabelo se quebra. Pois é. Hoje o papo é sobre isso. Sobre crise? Secador de cabelo??? Não, gente. Sobre a experiência de comprar um.

Depois de dormir com o cabelo molhado e (pior que isso) acordar com o cabelo fora de controle, tive que sair para comprar um secador. Claro que, perto de onde estava, nenhuma loja tinha a marca que eu queria. Se eu fizesse questão de comprar um dessa marca, teria de comprar via internet e esperar 5 dias até a entrega. Não, minha crise já estava demasiado grande para suportar esse prazo, beirando o infinito!

Tive a brilhante ideia de comprar um secador para “quebrar o galho” enquanto o quebrado estivesse em conserto, ou o novo estivesse em transporte. Depois de analisar a relação custo-benefício dos produtos disponíveis na loja, optei por um e entrei na fila para pagar.

– Sua compra ficou em R$xx! Você conhece nossa política de troca?

Ao responder que não, o rapaz explicou o que eu deveria fazer em caso de troca.

– Você conhece nossa garantia estendida? – Ele me fez outra pergunta.

Fiz um balanço com a cabeça indicando que não. Ele me respondeu:

– Por esse preço (mostrando o valor na tela da caixa registradora), você tem um ano de garantia.

– Mas o produto já me dá um ano de garantia. – Respondi.

– Ah! Mas essa é a garantia do fabricante. Aqui na loja, se o produto apresentar algum defeito, você traz e a gente troca na hora.

“Sei! Então agora eu preciso de dupla garantia?” – Pensei comigo. Respondi:

– Mas são 20% do valor do produto! Com esse dinheiro eu compro um lanche numa cadeia de fast food e ainda me sobram algumas moedas. Não, obrigada!

– Mas vale a pena! O serviço é ótimo! – Insistiu o rapaz.

– Pode ser ótimo! Mas acho que não preciso!

– Mas veja comigo! Não é muito dinheiro pelo serviço que você está adquirindo.

A minha vontade era de soltar um sonoro “N-A-O, TIL”. Mas pensei: “já não basta estar descabelada, agora vou ser mal-educada?” Respirei fundo para pensar em uma resposta mais assertiva e soltei um:

– O que você ganha vendendo essas garantias estendidas?

– Um dia de folga. – Respondeu o rapaz com um sorriso sedutor.

Não é que eu quase comprei para ajudá-lo? Não era por comissão que ele estava me empurrando a garantia goela abaixo. Era por um dia de folga! Tudo que ele queria era ter um dia de folga para poder viver sua vida sem desconto no salário.

– A cada venda dessa você ganha um dia de folga? – Perguntei.

– Não, senhora. É a cada 5 vendas, e falta só uma.

freud;secador de cabelo; dormir com o cabelo molhado;

Imagina o que estava acontecendo na minha mente naquele momento. Só Freud para explicar isso! É que, segundo a teoria da psicanálise, existem: o ego, o id e o superego.

Uma querida amiga me presenteou com um super livro chamado O comportamento do consumidor, de Michael R. Solomon. É fantástico. No capítulo Personalidade e estilos de vida, encontramos a seguinte explicação:

“O id é inteiramente voltado para a gratificação imediata. Ele opera de acordo com o princípio de prazer: o comportamento é guiado pelo desejo primário de maximizar o prazer e minimizar a dor. O id é egoísta e ilógico.”

Como assim “egoísta”? Eu queria fazer um favor: comprar a bandida da garantia estendida para dar um dia de folga para um rapaz trabalhador e honesto. Mas sejamos francos: comprando o serviço, eu estava ME proporcionando a sensação de ser a salvadora da pátria. Eu queria, na verdade, comprar um serviço (de que eu não precisava) para ficar em paz comigo mesma. Dessa forma, era o id que me estimulava a comprar a garantia estendida e, assim, possibilitar que o rapaz folgasse um dia.

Sobre o superego e o ego, o livro oferece as explicações a seguir:

“O superego é a contrapartida do id. Esse sistema é, essencialmente, a consciência da pessoa. Internaliza as regras da sociedade (especialmente como os pais as ensinam para nós) e trabalha para impedir que o id procure gratificação egoísta.”

“Finalmente, o ego é o sistema intermediário entre o id e o superego. De certa forma, trata-se de um árbitro na luta entre a tentação e a virtude. O ego tenta equilibrar essas formas opostas de acordo com o princípio de realidade (…) Esses conflitos ocorrem num nível subconsciente, de modo que a pessoa não necessariamente está consciente das razões subjacentes de seu comportamento.”

No caso da minha dúvida entre comprar ou não a garantia estendida, acho que o ego deu razão para o superego, e acabei não comprando o serviço.

Tá, eu sei! Como consegui ser tão cruel? Pois é, leitor, eu quero matar meu ego por dar razão ao superego. E agora não consigo me perdoar por não ter ajudado o pobre rapaz. Acho que vou ter que voltar na loja para comprar outra mercadoria que se encaixe na política da garantia estendida. Só assim meu coração vai ficar feliz!

A Teoria da Psicanálise de Freud foi a que pareceu se encaixar melhor nessa história, mas é claro que existem outras teorias que podem ajudar a entender o que acontece na nossa mente durante uma decisão de compra! Você, leitor, consegue pensar em alguma?

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